Construções sustentáveis: comprometimento com o futuro

Larissa Luise Tietjen

Larissa Guerra

Ruana Souza

Torre de Capra

A palavra anda na moda, mas raros são os que têm efetivamente usado como deve: sustentabilidade. Longe de ser apenas uma preocupação ideológica, a sustentabilidade envolve toda uma mudança de hábitos do homem. O setor de construção, que gera mais impacto no meio ambiente que qualquer outra forma de consumo humano, começa a abrir os olhos para essa realidade. E quer que ela venha para ficar.

Cerca de 40 a 75% do que é usado em uma obra, por exemplo, provém de recursos naturais. Encontrar alternativas que aliem viabilidade financeira, garantam o conforto necessário ao homem e não agridam o meio ambiente é o desafio que arquitetos e engenheiros têm encarado desde o começo da década, quando surgiram, nos Estados Unidos e na Europa os primeiros Green Building, ou Edifícios Verdes. Em uma edificação que segue as ideias dos Green Building (veja vídeo abaixo), são aplicadas medidas que procuram aumentar a eficiência dos recursos a fim de promover a redução de impacto ambiental, e devem abranger toda a vida útil do prédio, que dura cerca de 50 anos.

O primeiro edifício que segue a ideia de Green Building em Santa Catarina começou a ser construído no início deste ano na cidade de Balneário Camboriú. A construtora responsável pelo projeto quer inovar o mercado da cidade, mostrando que é possível construir prédios de alto padrão com alternativas sustentáveis.

Para o engenheiro proprietário da construtora, Mário Luiz Rambo, a sustentabilidade começa na planta da obra. “Fazer modificações em uma construção já existente é muito difícil. O ideal é que o planejamento seja elaborado a partir da cultura da sustentabilidade.” Os cuidados começam com pequenas mudanças, como lavar os pneus dos caminhãos que colhem resíduos da construção até a diminuição da poluição sonora que é produzida enquanto os andares do prédio estão sendo erguidos.

Para uma obra ser sustentável, é preciso que o planejamento esteja voltado para atender três principais frentes: a ambiental, a social e a econômica. Para Lisiane Ilha Bertolotto, engenheira civil doutora em Engenharia de Produção e professora dos cursos de Design Industrial e Arquitetura da Univali, “os profissionais que atuam em projetos devem estar conscientes da necessidade e do caráter multidisciplinar da sustentabilidade”.

O IDHEA – Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica – cita que para uma construção ser sustentável, ela precisa atender a nove requisitos básicos. Entre os nove, estão itens que vão desde estudos com o impacto ambiental do local onde a obra será feita, à gestão de recursos hídricos e energéticos e até mesmo com a poluição sonora que é produzida durante a obra.

A sustentabilidade é uma cultura ainda recente para a sociedade. “Ser sustentável é ter comprometimento com o futuro. Algo que é muito complicado de se fazer na nossa sociedade”, salienta Mário.  Lisiane acredita que ainda mais difícil é implantar práticas sustentáveis em locais turísticos, como Balneário Camboriú, “a construção civil possui um caráter fortemente especulativo, que entrava os avanços na área. Acredito que neste caso, a mudança ocorra de forma mais lenta”.

Lisiane reconhece que a sustentabilidade ainda está relegada a um segundo plano entre engenheiros e arquitetos. “por simples desconhecimento ou resistência cultural.” Nas universidades, a sustentabilidade é ainda um tema pouco abordado. Para a professora, “deve-se considerar não só sua inserção direta na forma de uma disciplina, por exemplo, mas como o conteúdo que permeia as matérias tradicionais de projeto, estruturas, materiais e tecnologia”.

Alternativas sustentáveis: caro no começo, barato no final

O edifício que a construtora de Rambo está fazendo é ainda voltado a um pequeno grupo, restrito a quem está disposto a desembolsar entre R$500 mil e R$ 600 mil. Parece caro, mas este é o valor de mercado de apartamentos do padrão do “Pioneiros do Atlântico” custam em Balneário Camboriú.

Longe de pensar apenas na qualidade de vida dos moradores dos seus prédios, Rambo demonstra vontade de conscientizar outros engenheiros, arquitetos, moradores e até mesmo junto à prefeitura. “Sustentabilidade é uma união de esforços”.

O “Pioneiros do Atlântico” possuirá um telhado verde, que atua na redução do desempenho térmico da construção. “Quando você olha um prédio de cima, você pode ver que é tudo escuro. A absorção de calor acaba sendo muito maior, e em longo prazo, põe em risco a própria estrutura do lugar. O telhado verde equilibra a temperatura da construção e ainda serve de pouso para animais”.

Mário utiliza também nos prédios sistemas de reaproveitamento de água pluvial e de separação do que é utilizada nas pias dos apartamentos. Um litro de óleo jogado na pia polui 100 mil litros de água. A estudante de Administração Paula Essig de Arruda, que conclui um TCC sobre o tema, diz que a construção civil está mais aberta para o reaproveitamento da água. “já existem projetos que reaproveitam a água utilizada na máquina de lavar roupas para a descarga do banheiro, por exemplo.”

Enquanto a aceitação desta alternativa é crescente (porém tímida) entre engenheiros e arquitetos, empresários da região evitam a implantação de projetos nessa área. Paula diz que o custo alto do tratamento da água é o maior problema. “Mesmo que for usar a água da chuva para a descarga ela deve ser tratada.” A professora Lisiane acrescenta ainda que “as tecnologias devem ser economicamente viáveis, sem desconsiderar seus efeitos para o usuário a curto e longo prazo. Nisto devem estar incluídas a manutenção, o desempenho na vida útil, o custo total (inicial da construção e ao longo da vida útil) o domínio da tecnologia, entre outros.”

Sustentabilidade: O que você pode fazer?

Quando o assunto em pauta é sustentabilidade, três apontamentos que sobressaem na fala dos especialistas são: a necessidade de redução dos gastos de energia, o melhor uso da iluminação dos ambientes e utilização racional da água. As recomendações podem facilmente fazer parte da rotina das casas e escritórios em qualquer cidade, já que para isso basta que o indivíduo adote atitudes para o melhor aproveitamento dos recursos da arquitetura e da natureza local.

O termo ‘arquitetura sustentável’ muitas vezes dá a impressão de que se trata de um projeto anterior à construção dos imóveis, e que obrigatoriamente é assinado por arquitetos ou engenheiros. Contudo, a maior porcentagem das construções — desde as vilas até grandes metrópoles — são conhecidas como parte da ‘arquitetura vernacular’: aquela entendida como comum, anônima, construída sem interferência destes profissionais. Estas construções constituem a fisionomia das cidades, refletem a época e ambiente onde foram formadas. Por isso, uma cidade nunca é igual à outra.

É também por este hibridismo entre sociedade e arquitetura que se destaca a importância da população enxergar seu papel como agente responsável pela preservação do ambiente. Hoje se dispõe de material à venda nas lojas para adaptação das construções aos moldes da sustentabilidade, que não implicam grandes gastos ou mudanças bruscas de hábito e resultam em economia no orçamento final de qualquer família. Entre pequenas ações e grandes reformas, aos poucos o cenário arquitetônico ganha ares de tecnologia e preocupação com o planeta.

A arquiteta catarinense Samara Zukoski dá uma opção: para aqueles que possuem casa com telhas sem a estrutura do assoalho, é possível usar telhas transparentes, que aproveitam a luz natural do dia e da noite. “As telhas transparentes de vidros ou as translúcidas são opções de investimento um pouco maior, para um tipo específico de casa, mas diminui o uso de energia elétrica consideravelmente”, garante.

Um exemplo bastante simples é a troca das lâmpadas amarelas pelas fluorescentes, que consomem em média 80% menos energia, duram mais e iluminam melhor os locais. E para isso, o consumidor não precisa mais do que ir até uma loja de utensílios para a casa adquirir as lâmpadas para os cômodos onde se costuma ficar mais tempo com a luz acesa.

Ainda há um longo caminho a percorrer antes que a sustentabilidade torne-se algo que faça parte do cotidiano do homem. A necessidade de salvar o ambiente é urgente, como enfatiza a professora Lisiane: “É uma questão de sobrevivência. Tem de ser. Ponto Final”.

Leia mais sobre isso:

http://sustentabilidade.bancoreal.com.br/sustentabilidadenobancoreal/produtoseservicos/Documents/guia_const_civil.pdf

http://www.unb.br/fau/disciplinas/SC1/SC1-Textos/012 Arquiteturaesustentabilidade.pdf

Veja aqui a planta do Edifício Pioneiros