Novas tecnologias aprimoram a inclusão social

Máquinas caça-níqueis são transformadas em equipamentos computacionais

Carlos Magagnin
Daiane Louise Basso
Ricardo Aoki

Proibidos desde 2004 com o decreto do presidente Luis Inácio Lula da Silva, os bingos continuam operando de forma clandestina em todo o Brasil. O jogo clandestino, conforme levantamento feito pela Polícia Federal movimenta R$ 3 bilhões por ano e tem forte repressão por parte do estado. As máquinas de bingo e caça-níqueis estão espalhadas por diversos pontos comerciais dificultando a fiscalização.

No estado de Santa Catarina a Polícia Civil e a Federal conseguiram desativar, em 2009, aproximadamente 250 pontos de jogatina e apreenderam três mil máquinas caça-níqueis. A maioria das apreensões aconteceu em Balneário Camboriú e cidades litorâneas. Segundo o delegado da Polícia Civil de Balneário Camboriú, Arthur Nitz, a apreensão dos equipamentos resolve um problema e causa outro, tendo em vista que os equipamentos apreendidos são depositados ao ar livre.

Porém, com a proibição das máquinas caça-níqueis, uma questão social é favorecida com a transformação dos equipamentos de jogatina em aparelhos de informática. Esse processo vem sendo coordenado pela organização não governamental Rede PIÁ – Reciclagem Digital Educativa Pró-Infância e Adolescência desde novembro de 2007.

Clique aqui e veja a apresentação do projeto Rede Piá

O programa conta com a participação de sessenta e seis universidades do estado de Santa Catarina, entre elas a Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Contando com o apoio e coordenação das instituições de ensino superior (IES), Secretarias de Desenvolvimento Regionais (SDRs), Rede de Laboratórios de Experimentação Remota (RExNet) e do Ministério Público do Estado.

Confira o Artigo da Unisul sobre a transformação caça-níqueis em equipamentos de educação

O objetivo do projeto é inserir de forma didática e pedagógica o uso da tecnologia digital nas escolas de ensino básico e médio das redes públicas municipais e estadual, bem como de organizações governamentais e não governamentais que prestam atendimentos às comunidades carentes.

A participação das universidades no projeto é importante, pois conta com a inclusão de estudantes de ensino superior na transformação das máquinas em computadores. A maior parte dos equipamentos é destinada para o uso de crianças de quatro a seis anos. Outro benefício da Rede Piá é a adaptação dos materiais eletrônicos para a utilização de portadores de necessidades especiais.

A conversão dos equipamentos é feita por técnicos de informática que utilizam softwares livres que estão disponíveis gratuitamente para download na internet. Conforme Chris Namurth, bolsista do curso de Ciências da Computação da Universidade do Vale do Itajaí, um dos responsáveis pelo projeto, o programa estimula a coordenação motora, a alfabetização e a inclusão digital dos alunos ao universo tecnológico.

Em Balneário Camboriú a parceria está contemplando os núcleos de educação infantil Carrossel, Rio das Ostras e Novo Tempo com equipamentos já adaptados para o uso das crianças. A secretária de educação do município, Christina Barichello, destaca a importância da transformação das máquinas, que são símbolos da contravenção, em equipamentos de aprendizado.

O material utilizado é 100% reciclado dos caça-níqueis apreendidos. Os jogos educativos são inseridos com a utilização de pen-drives já que os originais não possuem Hard Disks (HDs). O coordenador do projeto, João Carlos Nascimento Maia, explica que todo o material utilizado é resultado das apreensões feitas pela Polícia Federal e totalmente liberado pela justiça para que possam ser transformados em computadores.

Confira a entrevista com o coordenador do Projeto – João Carlos Nascimento Maia

Novas tecnologias e informação para as comunidades

Na esquina da Rua Grécia já se ouviam vozes de crianças. Eram nove horas da manhã e o ambiente já estava bem agitado. A correria somente parou quando o sino soou e a hora do lanche foi anunciada. Pães e frutas faziam parte do café da manhã dos alunos do Núcleo de Educação Infantil Carrossel de Balneário Camboriú. Sentados à mesa, lado a lado, os pequenos se deliciavam com a refeição matinal.

No último dia 8, o ambiente também se encontrava bem animado, entre autoridades municipais, imprensa, visitantes e apresentações de turmas, o núcleo infantil recebeu doze computadores do Projeto Rede Piá. Segundo a diretora do Carrosel, Lídia Radke, os jogos inseridos nesses computadores foram bem desenvolvidos pedagogicamente e também foram calculados para essa faixa etária.

“Aqui no Carrosel, crianças entre 4 e 6 anos estão usando os computadores, sendo que até pequenos de 3 anos já sabem utilizar os jogos pedagógicos”, conta a diretora. O interessante é que com os computadores do Projeto Rede Piá, o núcleo infantil consegue realizar até duas aulas por semana, com essa mídia, para as crianças.

Antes de a escola receber os computadores do Projeto Rede Piá, outros instrumentos eram utilizados para aprimorar as atividades educacionais. Um deles, conta a diretora, foi o uso da música clássica. “Criamos o Projeto Beethoven como forma de aprimorar o desenvolvimento do cérebro desses alunos. Mesmo que essas crianças ainda não saibam ler e escrever, elas sabem ouvir e conseguiram repassar a história deste renomado compositor para seus familiares”, diz Lídia.

O Núcleo de Educação Infantil Carrossel solicitou aos pais que construíssem instrumentos musicais com sucata e o resultado foi brilhante. “Além de conseguirmos integrar a realização da atividade com a educação, conseguimos que os pais tivessem um maior relacionamento com seus filhos, visto que hoje em dia o contato familiar é cada vez menor”.  Lídia ainda acrescentou que antes de considerarmos as crianças hiperativas, devemos entender o processo educacional e buscar métodos para auxiliar esses pequenos. Uma dessas alternativas pedagógicas, que veio para somar, foi o Projeto Rede Piá.

O mais interessante do projeto, segundo a diretora, é que ele uniu diversas entidades, como Polícia Civil e Militar, Prefeitura, Univali e Educação, ou seja, várias pessoas se uniram por uma única causa. Para Lídia, a frase “Educação é um dever de todos”, está sendo traduzida neste projeto.