Como explicar o fascínio cada vez maior que a tecnologia exerce sobre as pessoas?
Por Caroline Weiss e Diorgenes Pandini
A tecnologia se desenvolve de forma acelerada. Há tantos produtos no mercado que fica difícil decidir qual, ou quais, você realmente necessita. No primeiro grande evento tecnológico de 2010, que ocorreu em Las Vegas (EUA), a CES (Feira Eletrônica de Consumo, em português), contemplou mais de 20.000 lançamentos tecnológicos para o primeiro semestre do ano. A tarefa de escolher uma TV deixou de ser apenas a avaliação da relação de polegadas com o preço. Hoje, há de se considerar também a resolução, o formato, a espessura, as entradas e saídas (HDMI, por exemplo). Dependendo da TV que você escolhe, ainda tem que considerar a possibilidade de ter que comprar um leitor de DVD ou Blu-ray compatível com a qualidade da TV.
A televisão foi inventada em 1923 e só exibia imagens em preto e branco. Trinta anos depois, em 1954, surgiu a TV em cores que demorou mais cinquenta anos para ser superada pela criação de uma nova tecnologia. Porém, ano passado surgiu a TV de Led e em 2010 já estão vendendo no Brasil as TVs com tecnologia 3D. Esse é apenas um dos exemplos da atual velocidade da evolução tecnológica.
A tecnologia também caminha para converter várias funcionalidades em um único produto. Um celular, que há sete anos servia apenas para fazer ligações e checar mensagens, hoje também entra na internet por wifi ou 4g, fotografa, filma e possibilita a instalação de softwares que aumentam as funcionalidades desse aparelho. Muitos possuem uma plataforma própria, como se fosse um “mini-Windows” no seu bolso. Ironicamente, o ato de fazer ligações passa a ser um mero coadjuvante diante de tantos atrativos. Mas, será que realmente precisamos de tanta tecnologia?
O jornalista, mestre em Educação e membro do Maiêutica Florianópolis Instituto Psicanalítico, Isaías Venera, vê um ciclo viciante entre o consumidor e a evolução tecnológica. Segundo ele, quando compramos algo simplesmente por uma ou outra funcionalidade adicional, não estamos apenas comprando o produto. Estamos comprando uma falsa ideia de que um produto pode nos trazer a felicidade, pode preencher algo que falte na gente. “A pessoa sabe que ela não vai ficar satisfeita com aquilo que consome, mas tem a ilusão de que se ele comprar a última televisão, o último carro, uma roupa nova, assistir ao último lançamento do cinema; ela vai se sentir melhor”, comenta Isaías.
Com isso, as empresas da área de tecnologia se veem obrigadas a produzir mais novidades e chamar mais atenção do mercado. O ciclo viciante, então, se completa. De um lado consumidores que buscam a satisfação pessoal através de uma mercadoria e do outro, empresas que lutam para sobreviver economicamente. Para o doutor em Ciência da Computação, Cesar Albenes Zeferino, “Essa sustentação (econômica) é alcançada com inovação e com o desenvolvimento de novos produtos em um ritmo cada vez maior. Em princípio, as empresas não têm como fugir disso, pois se adotarem uma postura diferente tendem a perder espaço no mercado.“
Segundo Zeferino, o atual desenvolvimento da tecnologia se dá por dois grandes fatores: o avanço da indústria microeletrônica, com ela “hoje é possível integrar sistemas computacionais complexos em um único chip e agregar novas funcionalidades.” Basta citar como exemplo os celulares, que são praticamente mini-computadores, se considerarmos as possibilidades de funções encontradas neles. O segundo fator é de natureza econômica. O crescimento econômico mundial abriu portas para que países que tinham acesso restrito à tecnologia, hoje tenham desenvolvido substancialmente essa indústria, como, por exemplo, o próprio Brasil. “Esses novos mercados representaram um aumento de oportunidades para o setor eletro-eletrônico e impulsionaram o seu desenvolvimento.”
Porém, há também fatores sociais que transformaram o consumidor no decorrer dos séculos. Isaías Venera explica que “toda a identidade, toda pessoa, se constrói sempre numa relação de espelho com o outro. Ou seja, ela se comporta de uma determinada forma e se preocupa com a forma como o outro a olha.” A tecnologia, então, adquire um significado para o consumidor que vai além do de suprir uma necessidade ou trazer um benefício. A tecnologia também é demarcadora de status. Através dela, muitas vezes inconscientemente, a pessoa quer apenas se colocar dentro de um status na sociedade. “Todos nós queremos que o outro nos veja de uma determinada forma. Então, eu posso investir achando que um carro novo vai fazer com que o outro pense que estou me dando bem na vida, assim como uma pessoa pode fazer um investimento no meio acadêmico porque quer que o outro o veja como um intelectual”, afirma o jornalista.
Não se pode negar que a tecnologia também trouxe muitas facilidades para a vida moderna. O GPS, por exemplo, é um sistema de rastreamento que utiliza sinais de satélite capazes de indicar toda a rota de uma viagem em tempo real. Ele, inclusive, pode falar os nomes das ruas em que você está circulando. Hoje em dia, dependendo do lugar em que você vive, é possível pedir uma pizza pela internet e recebê-la em menos de 20 minutos. Tudo na maior comodidade. Mas, a tecnologia também pode exercer um papel importante em questões fundamentais, como a saúde. Na Universidade do Vale de Itajaí, o Projeto Sarda (Software auxiliar na reabilitação de distúrbios auditivos) auxilia crianças com distúrbios auditivos, através de softwares produzidos exclusivamente com esse intuito.
Para o especialista em Propaganda e Marketing, Wagner José Mezoni, quando falamos em tecnologia, podemos afirmar que as pessoas pagam pelo benefício que ela irá acrescentar em suas vidas. Para exemplificar, ele comenta uma pesquisa produzida para medir o grau de satisfação com smartphones: “A ChangeWave, empresa americana focada no desenvolvimento de levantamentos, entrevistou 1.009 donos de smartphones nos Estados Unidos e descobriu que 77% dos usuários de iPhone estão muito satisfeitos com seus celulares. A Motorola aparece em segundo lugar, com um nível de satisfação de 64%. Os aspectos utilizados pelos donos de celulares como parâmetro para medir o grau de satisfação foram os aplicativos, facilidade de uso, acesso à internet e mapas. As pessoas poderiam viver sem essas ferramentas? Poderiam. Viveram durante milênios. Mas que bom que, assim como a energia elétrica, elas existem hoje em dia e estão facilitando, em muito, a vida de quem as usa”, analisa Mezoni.
O doutor em Ciência da Computação, Cesar Albenes Zeferino, comenta que a melhor opção para o consumidor entusiasta de tecnologia não se sentir frustrado com a constante evolução tecnológica, é evitar comprar os lançamentos, pois o custo inicial é muito alto. Uma boa opção é esperar os preços baixarem, isso geralmente ocorre quando uma tecnologia substituta à anterior está entrando no mercado. “De qualquer maneira, cabe ao consumidor se perguntar se ele precisa mesmo dessa nova tecnologia. Se não precisar, não vale a pena comprar. Às vezes é melhor pular algumas gerações intermediárias de tecnologia para economizar um pouco de dinheiro ou gastá-lo com outras coisas.”
Assista nesse vídeo produzido pela TV Futura o impacto que a tecnologia da informação está exercendo na vida social das pessoas.
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Constantemente trocamos de aparelhos eletrônicos, quando opções mais novas e modernas surgem no mercado. Mas, o que acontece com essa tecnologia que já não é mais útil? Conheça o blog Lixo Eletrônico: http://www.lixoeletronico.org/blog/o-ciclo-do-lixo-eletr%C3%B4nico-1-produ%C3%A7%C3%A3o-e-consumo
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A Nova Comunicação
A relação de necessidade do ser humano por tecnologia também modificou a área da comunicação. Há alguns anos, a comunicação era configurada de uma forma em que apenas poucos comunicavam a muitos. Era muito difícil para uma pessoa não ligada a grandes corporações ter voz e poder expor suas opiniões. Hoje, através de twitter, blogs e demais mídias sociais, a comunicação se tornou bi-direcional. Quem recebe é também quem produz e todos têm a chance de falar para muitos. Para o especialista em Propaganda e Marketing, Wagner José Mezoni e estudioso das Mídias Sociais, o usuário procura além de comunicação e conteúdo, um “capital social”, que, segundo ele, seria o reconhecimento. “Em blogs, por exemplo, isso pode ser avaliado pelas opiniões, comentários, linkagem, visitas. No orkut, pelos recados, quantidade de amigos e no twitter, pelos seguidores e quantidade de respostas”.
Leia sobre os impactos das novas tecnologias da informação na sociedade: http://www.cinform.ufba.br/vi_anais/docs/MarciaPalhares.pdf
Analisando a ideia de que as redes sociais tornaram-se um ambiente onde qualquer pessoa tem a chance não apenas de receber informações, como também de produzir, Mezoni comenta que “o dinheiro, que é a manifestação física da economia de escassez, perde o sentido num mundo onde todos podem ter tudo. E nesse tipo de mundo, o que as pessoas desejam? Aquilo que o dinheiro não compra. As pessoas querem a notoriedade, recebendo destaque, sendo convidadas para eventos, sendo citadas em artigos, chamando para si e para seu trabalho a atenção dos outros”.
O jornalista, Doutor em Ciências da Comunicação, Rogério Christofoletti, observa que as redes sociais já existiam mesmo antes da internet. As pessoas já estabeleciam grupos e coletivos antes do surgimento das novas mídias. “O que a internet possibilita é que novos grupos se reorganizem, que pessoas dispersas se reagrupem, que novas afinidades e semelhanças sejam identificadas, enfim, o que a internet faz é impulsionar, hipertrofiar, potencializar ainda mais as redes sociais”. Seguindo o conceito de capital social, Christofoletti reafirma que as redes sociais acabam se tornando uma vitrine para o exibicionismo e que há cada vez mais pessoas em busca de popularidade e atenção.
Porém, tanto Christofoletti quanto Mezoni concordam quando o assunto são as inúmeras vantagens dessa nova cara da comunicação. “Aproxima as pessoas, reúne, agrega. A tecnologia permite, possibilita. O uso que dela fazemos é o mais importante e o mais determinante sobre os resultados que podemos colher”, observa o jornalista. Mezoni ressalta que hoje o pensamento mudou do ‘você é o que você tem’ para ‘você é o que você compartilha’. Ele exemplifica citando o Flickr, uma rede social que dâ ênfase à postagem de fotografias. Através dessa rede, um amante de fotografia ou mesmo um profissional da área pode divulgar seus trabalhos e ser reconhecido, recebendo feedbacks e até sendo chamados para participar de eventos, etc. “Enquanto a foto não compartilhada, guardada na gaveta não geraria valor nenhum nem para ele nem para ninguém”, reforça o especialista em Propaganda e Marketing.
O fato é que a tecnologia está se desenvolvendo cada vez mais depressa e isso já é visível na comunicação. Quando bem utilizadas, as redes podem aproximar as pessoas, facilitar o compartilhamento de interesses comuns e ampliar conhecimentos. “A tecnologia está crescendo e mudando a forma de fazer comunicação. Legal é que estamos acompanhando essa mudança. Os mais jovens embarcaram na onda e, muitas vezes, acabam por não perceber as transformações. Para quem é um pouco mais velho e consegue fazer o ‘antes e depois’, o momento atual é incrível”, afirma Mezoni.
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Conheça as 27 pessoas mais interessantes das redes sociais, segundo a revista Época: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/1,,EMI143734-15224,00.html
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Passa o dia inteiro em frente ao computador? Não fica um dia (ou nem mesmo algumas horas) sem consultar a caixa de email ou dar uma twittada? Saiba quando a internet se torna um vício.
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI143900-15224-1,00-ESTOU+VICIADO.html